Insegurança energética actual é uma “crise de aquecimento”
23-05-2014 22:42
Vinte mil milhões de euros é quanto a Europa pode poupar por ano na importação de combustíveis fósseis para aquecimento, nomeadamente de gás natural proveniente da Rússia. O número é avançado pelas associações europeias para a biomassa (AEBIOM), energia solar térmica (ESTIF) e geotermia (EGEC), que vieram publicamente defender o aquecimento e arrefecimento renováveis como resposta para a segurança de abastecimento europeia.
“A actual emergência na segurança de abastecimento é predominantemente uma crise de aquecimento”, lê-se na tomada de posição das três entidades, que foi tornada pública ontem.
As preocupações relativamente à segurança energética, ressuscitadas recentemente com a tensão entre a Ucrânia e a Rússia, devem-se à elevada dependência da Europa do gás natural russo e cuja utilização serve, em grande parte, para fins de aquecimento. “De facto, o gás natural é na sua maioria utilizado nos seguintes sectores: 41% no aquecimento de edifícios, 31% para processos industriais e apenas uma pequena fracção em centrais eléctricas (~25%)”, apontam.
Actualmente, a meta europeia (definida nos Planos Nacionais de Acção para as Energias Renováveis) para a penetração de energias renováveis no sector do aquecimento e arrefecimento, em 2020, é de 21,4%. De acordo com as associações, ao cumprir este objectivo, a Europa pode reduzir a sua importação de gás em 28,7 Mtep/ano. A preços actuais, isto iria permitir uma poupança na ordem dos 9,6 mil milhões de euros, sendo ainda possível, com medidas mais ambiciosas, cobrir 25% do total das necessidades de calor europeias, aponta a mesma fonte. “As poupanças anuais na importação de combustíveis fósseis seriam de até 21,8 mil milhões de euros, comparativamente com 2012”.
As três entidades defendem que a utilização de tecnologias solares térmicas, geotérmicas ou a biomassa como “opções rápidas, versáteis e práticas” que, juntamente com a eficiência energética, vão mitigar a dependência europeia do gás natural russo, tanto no sector residencial, como no industrial.
As associações industriais dizem-se prontas para esta mudança no sistema energético, mas reclamam um enquadramento favorável estável e a longo prazo. Avançar imediatamente com o abandono progressivo dos subsídios para os combustíveis fósseis, taxas de carbono e de outras emissões nos edifícios e outros sectores não incluídos no Sistema de Comércio de Licenças de Emissões, ou a definição de mecanismos adequados e dedicados à activação dos fundos europeus actuais e futuros são algumas das medidas propostas pela coligação.
“Uma vez que os preços da electricidade e dos combustíveis fósseis vão aumentar nos próximos anos, as renováveis para aquecimento e arrefecimento são preferíveis a alternativas mais caras e voláteis, incluindo o aquecimento eléctrico directo”, argumentam.
Em Janeiro passado, a Comissão Europeia apresentou a sua visão para o Pacote Energia e Clima 2030, propondo uma meta vinculativa para a redução de emissões de gases com efeito de estufa de 40%. De acordo com a indústria do aquecimento e arrefecimento renováveis, este cenário representaria um aumento da quota de renováveis no sector de 21% em 2020 para 25% em 2030 – “isto é simplesmente o equivalente ao business-as-usual e precisa de ser reconsiderado urgentemente”, aconselham.
O documento da tomada de posição da AEBIOM, ESTIF e EGEC pode ser lido na íntegra aqui.
19/02/14