Portugal pode ajudar Europa a ser mais ambiciosa nas metas das renováveis
21-11-2014 16:55
Líderes europeus definiram metas.
Foi há pouco mais de uma semana que os líderes europeus se juntaram para definirem novas metas comuns para as energias renováveis e para as emissões de carbono. A meta definida para as renováveis foi, então, de 27% até 2030, objectivo que pode ser revisto em 2020 para os 30%. No mesmo encontro foram definidos os valores de investimento nas ligações intercontinentais: 5,85 mil milhões de euros até 2020.
Mas o que significam estas metas para Portugal?
António Sá da Costa, presidente da APREN (Associação de Energias Renováveis), afirma que apesar de ser importante o que se passou na cimeira de chefes de estado, a sua posição é de ‘mix feeling'. "Não foi bestial porque, por um lado, as metas são pouco ambiciosas para a Europa. A meta definida para 2020 foi de 20%. E agora para 2030 é só 27%. Sabe a muito pouco".
Por outro lado, acrescenta, o facto das metas não serem vinculativas significa que não há consequências para os países que não cumprirem.
O presidente da associação destaca ainda o facto de o ministro do Ambiente ter lutado "por mais" nomeadamente nas reuniões preparatórias.
Foi precisamente isso que disse ao DiárioEconómico fonte da secretaria de Estado da Energia. Que Portugal terá apresentado à Comissão Europeia, "muito antes da aprovação definitiva deste Pacote Energia-Clima para 2030, as suas propostas relativas às metas, não só para as energias renováveis, mas também para interligações no espaço europeu, para as emissões de gases com efeito de estufa e para a eficiência energética". E no caso das energias renováveis o objectivo de Portugal era "muito mais ambicioso" do que o que seria aprovado. "O país tem condições para ser mais ambicioso nesta matéria, sobretudo depois de ter conseguido fazer valer a sua posição no Conselho Europeu em matéria das interligações", considera a mesma fonte.
O compromisso português relativo à utilização de energia proveniente de fontes renováveis no consumo final bruto de energia e no consumo energético nos transportes em 2020, é de 31% e de 10%, respectivamente, contribuindo a electricidade com mais de 60%. A meta dos 31%, diz o Governo, "está perfeitamente ao alcance de ser concretizada", já que em 2012 Portugal atingiu 25,1% como meta global. Para a mesma fonte oficial, a complementaridade entre a produção eólica e a produção hídrica continuará a ser privilegiada, mas a energia solar será uma das grandes apostas. Sobre a biomassa, o Governo assume como tendo maior importância no sector do aquecimento, apesar do importante papel que tem tido no mix energético nacional, quer ao nível da produção de electricidade e da cogeração, quer ao nível do consumo.
Nos transportes, a utilização dos biocombustíveis a curto-médio prazo, e a promoção da mobilidade eléctrica "com uma componente renovável superior a 50%no longo prazo (pós 2020), serão as apostas mais evidentes".
Interligações a França vão ser positivas?
No que respeita às ligações da Península Ibérica a França, que permitirão a Portugal a integração no mercado europeu de energia, podendo passar a escoar a sua produção de energia renovável - nomeadamente solar e eólica - para os restantes países europeus, António Sá da Costa considera a meta de 15% para 2030 curta, tendo em conta que há países que tem interligações superiores. A ligação vai permitir exportar electricidade verde. Mas, "a seguir, tem de se projectar, construir e usar. Posso construir uma autoestrada mas se a portagem é cara, o carro deixa de passar", afirma, sublinhando que a "autoestrada" deverá funcionar nos dois sentidos.
Paulo Preto dos Santos, secretário geral da Associação de Produtores e Energia de Biomassa (APEB), vai mais longe e acusa o anúncio das interligações ser "de cariz político, não empresarial", questionando: "alguém fez as contas ao que será o balanço entre a energia que seguirá e a energia que entrará?"
E deixa o aviso: "da mesma forma que a energia sairá, também outra energia entrará, nomeadamente a energia nuclear francesa que, às horas de ponta e cheias, é bem mais barata que a das nossas renováveis".
Fonte: economico.sapo.pt Irina Marcelino 04/11/14