Com a escassez e a finitude dos combustíveis fósseis em mente, muito tem sido feito nos últimos anos de modo a encontrar formas de combustível alternativas e, preferencialmente, renováveis. A aposta na energia solar, eólica e hídrica intensificou-se, e estas energias assumiram-se cada vez mais como complemento e alternativa ao petróleo e ao carvão. Mas há lugar para mais exploração e desenvolvimento nesta área: o último exemplo é apresentado de seguida, um autocarro que é movido… a cocó.
Já no século XVIII, dizia Antoine Lavoisier: “nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”. E se dos alimentos que ingerimos, parte é utilizada pelo nosso organismo e outra parte é eliminada nas fezes, porque não recorrer à Lei de Lavoisier e reutilizar estas? É este o ponto de partida para a concepção deste autocarro de 40 lugares que utiliza energia não só a partir de matéria fecal humana, mas também a partir de lixo orgânico. Mas como é obtida a energia necessária para mover um autocarro destas dimensões? Os esgotos e os resíduos alimentares que vão para a estação de tratamento de resíduos de Bristol são processados pela empresa GENeco que, através de um processo de digestão anaeróbia, produz biometano, o verdadeiro combustível por detrás do “Bio-Bus”.
Um tanque de biometano corresponde ao lixo e fezes produzidas anualmente por cinco pessoas, e fornece o autocarro com uma autonomia de 300 km de viagem. Esta fonte de energia além de renovável, reutiliza os detritos produzidos por nós e é consideravelmente menos poluente. A redução da emissão dos chamados gases de efeito de estufa é mesmo um dos principais objectivos deste projecto com sede numa das mais populosas cidades do Reino Unido. Mohammed Saddiq, general manager da GENeco deu uma entrevista ao The Guardian na qual realçou precisamente as vantagens ambientais desta forma de combustível: “Veículos movidos a gás têm um papel importante a desempenhar na melhoria da qualidade do ar nas cidades do Reino Unido, mas o Bio-Bus vai mais além que isso pois é alimentado por pessoas a viver naquela área, incluindo muito possivelmente aqueles que estão a viajar no autocarro.”
Além de alimentar o Bio-Bus, o biometano produzido na central da GENeco é suficiente para ser inserido na própria rede de gás nacional, sendo capaz de alimentar 8500 lares no Reino Unido. O “Bio-Bus” já havia arrancado em novembro, contudo só realizou algumas viagens entre o aeroporto de Bristol e a cidade de Bath, localizada a 17 km. O autocarro arranca agora como uma carreira regular no centro de Bristol, operando quatro dias por semana. Se este esquema tiver sucesso e face à popularidade deste projecto, James Freeman, managing director da empresa considera mesmo ampliar a oferta.
O bom desempenho do Bio-Bus relança mais uma vez o debate em torno do futuro dos combustíveis e a cada vez mais certa substituição das fontes de energia fósseis por fontes de energias renováveis, como reconheceu James Freeman, “O simples facto de o autocarro andar no meio da cidade deve servir para iniciar um debate sério sobre a melhor forma de combustível para os autocarros e o que é bom para o ambiente.” Mais a mais, o Bio-Bus também fomenta o conceito importante da reutilização, através da valorização de fontes aparentemente inutilizáveis como seriam as fezes e os restos alimentares. Um passo que se toma agora em Bristol mas que faz parte de uma estratégia global de consciencialização e mudança em direcção a um Planeta mais sustentável.
Fonte: shifter.pt 07/04/15
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